
Resumo
Em vários países foram relatados aumentos nos casos diagnosticados como Transtorno do Espectro Autista (TEA) em crianças, processo esse que traz consigo inúmeras indagações, que vão desde o método de triagem até a qualidade do cuidado pelos profissionais de saúde.
O objetivo central desta revisão sistemática foi reunir os estudos mais recentes voltados ao cuidado e atenção primária das crianças com TEA e realizar uma breve análise sobre a crescente incidência e suas associações significativas.
Visando avaliar este fenômeno, realizou-se uma busca nas bases de dados da USA National Library of Medicine (PubMed) e da Virtual Health Library (BVS) considerando os artigos publicados nos últimos 5 anos. Utilizaram-se os termos “autism”, “diagnosis”, “epidemiology” e “pediatrics” e o descritor “AND”, sendo encontrados 140 artigos. Incluíram-se 4 estudos para complementar a pesquisa.
Após serem submetidos à critérios de exclusão, como perpassar a temática proposta e apresentar duplicidade, 15 trabalhos foram selecionados.
Os resultados demonstraram um aumento da incidência de autismo, sobretudo, em comunidades mais vulneráveis socioeconomicamente, além disso, evidenciou-se preocupações relacionadas aos processos de triagem, diagnóstico e qualificação profissional desde a graduação médica, e a necessidade de melhorias que possibilitem uma intervenção precoce adequada.
O investimento em pesquisas na área da saúde e no Sistema Único de Saúde (SUS) diretamente no campo da atenção primária em pacientes com TEA, revelou-se uma das mais importantes providências a serem tomadas devido, principalmente, à complexidade do distúrbio por sua heterogeneidade e aos benefícios da intervenção precoce.
Palavras-chave: Criança; Pediatria; Transtorno autístico; Transtornos do neurodesenvolvimento.
Introdução
A Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP, 2019) define o Transtorno do Espectro Autista (TEA) como um transtorno do neurodesenvolvimento, caracterizado na sua síntese pela dificuldade na comunicação, na interação social e pelo comportamento restritivo ou repetitivo.
Possui gravidade e apresentação variáveis, é permanente, apesar disso, o diagnóstico precoce é essencial para melhora do prognóstico, amenizando os sintomas e permitindo uma melhor qualidade de vida para os seus portadores.
Na maioria dos pacientes, os sintomas são identificados entre 12 e 24 meses de idade, todavia, o diagnóstico só ocorre teoricamente, aos 4 ou 5 anos de idade.
Metodologia
Para a realização desta revisão, a pesquisa partiu de dois questionamentos fundamentais: “Por que se tem observado um aumento na incidência de autismo em crianças ao redor do mundo?” e “Quais são as práticas de triagem e diagnóstico atualmente utilizadas?”.
Esses questionamentos foram estruturados com base no modelo Population, Intervention, Comparison, Outcome (PICO), amplamente utilizado na Prática Baseada em Evidências (PBE), o qual facilita a incorporação das evidências na prática clínica e é frequentemente recomendado para revisões sistemáticas (Mendes et al., 2008; Santos et al., 2007).
Fatores de risco para o desenvolvimento
Ainda que não exista uma única causa para o autismo, considerando que ele se desenvolve a partir de uma combinação de influências genéticas, não genéticas e ambientais, é possível realizar uma análise associando o TEA ao tipo de parto obstétrico, ordem de nascimento e diferença de idade entre os pais (Lavor et al., 2021; Andoy Galvan et al., 2020).
Os autores Andoy Galvan et al. (2021) demonstram que a cesariana (OR = 1,63, IC 95% 1,20–2,20), a ordem de nascimento mais precoce na família (OR = 0,68, IC 95% 0,59–0,77) e o aumento da diferença de idade entre os pais (OR = 1,04, IC 95% 1,001–1,07) são fatores significativamente associados ao TEA entre crianças da Malásia.
Autismo no Brasil
O maior marco legislativo para o autismo no Brasil foi a Lei Federal (LF) 12.764/2012, que instituiu a Política Nacional de Proteção dos Direitos da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista. Além disso, recentemente foi aprovado o Projeto de Lei (PL) 969/2019, que instituiu o Programa Censo de Pessoas com Transtorno do Espectro Autista e de seus Familiares, permitindo o acesso a informações que irão corroborar na elaboração de um panorama sobre o TEA na população brasileira, auxiliando diretamente na formulação de políticas públicas (BRASIL, 2012, 2019).
Autores do artigo:
Nathalia Di Mase Salgado
Jessica Corrêa
Rafael Placeres Ferraz Viana
Rodrigo Guilherme Varotti Pereira