
Resumo
O suicídio é subestimado e estigmatizado na sociedade e, quando relacionado ao trabalho, é ainda mais invisível. Este estudo procurou analisar a literatura científica sobre o risco de suicídio ou tentativa de suicídio entre trabalhadores e sua relação com fatores psicossociais e assédio no local de trabalho.
Utilizou-se sete bases eletrônicas de dados e os descritores, em inglês: [“Work” OR “Workplace”] AND [“Occupational Stress” OR “Workplace Violence” OR “Harassment, Non-Sexual” OR “Sexual Harassment”] AND [“Suicide” OR “Suicide, Attempted”].
Estudos sobre “ideação suicida” e ocupações fora do contexto de trabalho foram excluídos da revisão. Seguindo as diretrizes do PRISMA, foram identificadas 1427 referências e 15 artigos foram selecionados.
Apresentaram associação significativa com o risco de suicídio e/ou tentativa de suicídio: assédio no trabalho, elevadas demandas de trabalho, baixa autonomia, baixo apoio social, conflitos trabalho-família, receio de perder o emprego e insatisfação com o trabalho. Estresse grave no trabalho também apresentou associação com risco de suicídio, quando combinado ao estresse doméstico grave.
Este estudo evidenciou que o medo de perder o emprego, assédio e fatores psicossociais no trabalho aumentam o risco de suicídio e tentativa de suicídio dos trabalhadores. Tais condições devem ser alvo de atenção no cuidado de trabalhadores.
Introdução
Quase um milhão de pessoas morrem por suicídio a cada ano no mundo. É a terceira causa de morte na faixa etária economicamente mais produtiva, de 15 a 44 anos, e a segunda causa na faixa etária de 15 a 29 anos1. O suicídio é responsável por 71% de todas as mortes violentas entre as mulheres e 50% entre os homens2. Estima-se que, para cada suicídio consumado, ocorram 20 tentativas de suicídio3.
Diante do grave problema de saúde pública dessas mortes potencialmente evitáveis, pesquisadores e profissionais de saúde têm se dedicado à intervenção precoce e prevenção do suicídio. A Organização Mundial da Saúde (OMS) orienta que, além de priorizar a atenção às pessoas com transtornos mentais, deve-se proteger e promover o bem-estar mental através de ações relacionadas à condições de risco.
O suicídio é compreendido como um evento multifatorial, decorrente de uma complexa interação entre fatores individuais, sociais e ambientais5. Entender essa dinâmica é um dos caminhos para a intervenção precoce nos espaços sociais comunitários, incluindo locais de trabalho e organizações.
Tentativas de suicídio e suicídio de trabalhadores podem significar um pedido de ajuda ou uma denúncia de que alguma coisa deveria ou poderia ter sido feita no ambiente de trabalho –tal como suporte dos colegas e gestores – e a necessidade de acompanhamento especializado6.
Práticas de gestão assediadoras nas organizações e outros fatores psicossociais no trabalho podem desencadear sofrimento e atuar como preditores de transtornos mentais e risco de suicídio.
Material e métodos
Foi realizada uma revisão integrativa da literatura científica, de acordo com as diretrizes Preferred Reporting Items for Systematic Reviews and Meta-Analyses (PRISMA). Para a pesquisa das referências, foram utilizadas sete bases eletrônicas de dados: PubMed, BVS/Bireme, Scopus, SciELO, Embase, PsycoInfo e Cochrane Library.
A estratégia de busca considerou [“Work” OR “Workplace”] AND [“Occupational Stress” OR “Workplace Violence” OR “Harassment, Non-Sexual” OR “Sexual Harassment”] AND [“Suicide” OR “Suicide, Attempted”], incluídos os sinônimos de cada termo para ampliar os resultados, sem uso de restrições.
Resultados
Os estudos incluídos abrangeram uma amostra de 229.453 trabalhadores/as de seis países. Os Estados Unidos foram o país com maior número de estudos (seis), correspondendo a 48,2% da amostra total; seguido pelo Japão com três estudos e 1,5% da amostra; Austrália com dois estudos e 10% da amostra; Suécia com dois estudos e 37,2% da amostra; Alemanha com um estudo e 3% da amostra; e Hong Kong com um estudo e menos de 1% da amostra. Nenhum país da América Latina teve estudos incluídos a partir da metodologia desta revisão.
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Autores:
Barbara Vieira
Colaborou igualmente em todas as etapas de elaboração do manuscrito. Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Faculdade de Ciências Médicas (FCM), Departamento de Saúde Coletiva (DSC) – Campinas (SP), Brasil.
ORCID
Marcia Bandini
Colaborou igualmente em todas as etapas de elaboração do manuscrito. Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Faculdade de Ciências Médicas (FCM), Departamento de Saúde Coletiva (DSC) – Campinas (SP), Brasil.
ORCID
Valmir Azevedo
Colaborou igualmente em todas as etapas de elaboração do manuscrito. Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Faculdade de Ciências Médicas (FCM), Departamento de Saúde Coletiva (DSC) – Campinas (SP), Brasil.
ORCID
Sergio Lucca
Colaborou igualmente em todas as etapas de elaboração do manuscrito. Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Faculdade de Ciências Médicas (FCM), Departamento de Saúde Coletiva (DSC) – Campinas (SP), Brasil.
ORCID









Uma resposta
Muito bom esse artigo!