Bebês Reborn: Entre a arte, o hobby e o limite emocional

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Bebês Reborn: Entre a arte, o hobby e o limite emocional
Imagem: Freepik

Bonecos hiper-realistas ganham espaço nas redes sociais e dividem opiniões entre afeto, arte e saúde mental

Eles têm nome, enxoval, certidão de nascimento e até “consultas médicas”. Os bebês reborn bonecos hiper-realistas que imitam recém-nascidos com riqueza de detalhes viraram febre nas redes sociais, impulsionados por vídeos de “mães” que mostram com orgulho suas rotinas de cuidado.

O valor de um desses bonecos pode chegar a R$ 9.500, e o envolvimento emocional de quem os adquire tem despertado admiração, curiosidade e também polêmica.

Celebridades

Entre as adeptas estão celebridades como Britney Spears e Gracyanne Barbosa, que já postou vídeos trocando fraldas e até amamentando seu bebê reborn, Benício. “Meu sonho é ter um filho. Podem me julgar, no começo eu achei estranho. Mas Benício me trouxe felicidade”, afirmou a influenciadora.

Mas, afinal, cuidar de uma boneca como se fosse um bebê real é uma forma saudável de expressão emocional ou um sinal de alerta psicológico?

Nem sempre é patologia

Para o psicólogo Marcelo Santos, professor da Universidade Presbiteriana Mackenzie, não se pode sair rotulando. “Não dá para ‘patologizar’ automaticamente. É importante analisar os contextos e as motivações que estão por trás desses comportamentos”, afirma.

Ele reforça que os bebês reborn podem, sim, trazer benefícios: promovem relaxamento, criatividade, senso de pertencimento e até integração social, especialmente por meio de grupos e comunidades de colecionadores.

A psicóloga Rita Calegari, do Hospital Nove de Julho, vai na mesma direção. Segundo ela, mulheres que usam os reborn como forma de relaxar, brincar ou colecionar não apresentam nenhum sinal de distúrbio psicológico. “É um hobby como qualquer outro. O problema aparece quando há prejuízo funcional na vida da pessoa”, alerta.

Quando o sinal vermelho acende

A fronteira entre o hobby e um possível desequilíbrio emocional é atravessada, segundo especialistas, quando o uso dos bonecos interfere de forma significativa na rotina ou nos vínculos reais. O psiquiatra Alaor Carlos de Oliveira Neto, do Hospital Oswaldo Cruz, destaca alguns sinais de alerta:

Trocar relações humanas pelo apego exclusivo ao boneco;
Deixar de cumprir tarefas cotidianas, como trabalhar ou estudar;
Gastar compulsivamente com bonecas e acessórios;
Tratar o boneco como um bebê real de maneira contínua, perdendo o senso de realidade;
Usar o boneco como forma de evitar lidar com problemas emocionais ou traumas.

Reações emocionais extremas também preocupam. “Algumas pessoas podem até desenvolver sintomas depressivos ao sentirem que o boneco está sendo alvo de críticas. Isso é um alerta importante”, reforça Santos.

Um espaço terapêutico para o luto e o cuidado

Nem todas as conexões emocionais com os bebês reborn nascem de desequilíbrio. Em alguns casos, os bonecos são utilizados com fins terapêuticos. A psicóloga Rita Calegari relata que mães que perderam filhos muitas vezes encontram alívio ao segurarem e cuidarem de um boneco que simboliza aquilo que perderam.

“O luto sem corpo é um dos mais difíceis de elaborar”, comenta. O mesmo se aplica a pacientes com Alzheimer, que se acalmam ao interagir com os reborn, vivendo realidades internas que lhes proporcionam segurança.

Arte, empoderamento e preconceito

Andrea Janaína Mariano, colecionadora e artesã ou “cegonha”, como são conhecidas as criadoras desses bonecos organiza encontros entre admiradoras da arte reborn em São Paulo.

“As pessoas acham que vamos brincar de boneca, mas não é isso. Somos artistas e colecionadoras”, diz. Ela também reconhece que existem raros casos em que o apego ultrapassa o limite saudável, mas garante que a maioria sabe distinguir fantasia e realidade.

Andrea também critica o julgamento social seletivo, especialmente contra mulheres. “Homens gastam fortunas com videogames, coleções de filmes ou carros em miniatura, e ninguém fala nada. Mas quando uma mulher compra uma boneca, parece que ela está fazendo algo errado”, desabafa.

A psicóloga Rita concorda e vê na prática uma dimensão de liberdade e empoderamento. “A mulher pode escolher não ser mãe e, ainda assim, brincar de ser mãe. Isso não precisa ser visto como algo patológico.”

Conclusão

Entre a arte, o hobby, a expressão emocional e o uso terapêutico, os bebês reborn ocupam um espaço que desafia rótulos fáceis. Enquanto alguns enxergam exagero ou fuga da realidade, outros encontram afeto, companhia e uma forma legítima de cuidar de si e de um ideal simbólico.

Cabe à sociedade e aos profissionais de saúde mental manter o olhar atento, mas também respeitoso, sobre essas manifestações


Matéria feita por:

UOL

Notícia estruturada no site conversa psicologica

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Jonnas Vasconcelos

Jonnas Vasconcelos é graduando em Psicologia e apaixonado por entender o comportamento humano em suas múltiplas facetas.

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