Depressão não é falta de Fé: O perigo de julgar!

1000011984

Jonnas Vasconcelos

Jonnas Vasconcelos é graduando em Psicologia e apaixonado por entender o comportamento humano em suas múltiplas facetas.

Artigos Recentes

E-book Gratuito

Depressão em Idosos

Baixe o e-Book “Depressão em Idosos” e descubra como identificar, entender e ajudar quem está enfrentando esse desafio silencioso.

Depressão não é falta de Fé

O perigo do comum

É comum ouvir algumas afirmações de cristãos direcionadas a irmãos na fé que lutam contra a depressão, como: “Você deveria orar mais.” “Isso é falta de Deus.” “Você precisa reagir.” “Basta ter fé em Deus.” No entanto, tais declarações, em vez de ajudar, podem agravar ainda mais o sofrimento emocional da pessoa.

Este artigo tem como principal objetivo desmistificar a ideia, ainda presente em alguns círculos cristãos, de que a depressão está necessariamente ligada ao pecado ou à falta de fé. Para isso, tomaremos como referência o livro Psiquiatria e Jesus, do psiquiatra Ismael Sobrinho.

A obra é fascinante e repleta de relatos de personagens bíblicos que enfrentaram momentos desafiadores, especialmente no âmbito emocional, demonstrando que a fé e a saúde mental podem e devem caminhar juntas.

Depressão

O autor inicia o capítulo mencionando dois personagens bíblicos pelos quais tenho grande apreço, Elias e Jeremias. Vou me concentrar na história do personagem Elias. É importante ressaltar que, ao longo da história da humanidade, a depressão tem sido uma realidade constante. Se não for tratada, pode se tornar um grande problema.

O autor destaca que, na maioria dos casos, a depressão não é causada pelo pecado nem pela falta de fé. Para ém disso, é fundamental esclarecer aos leitores que, na Bíblia, os sintomas depressivos eram compreendidos de maneira diferente da visão contemporânea sobre o transtorno.

A mudança emocional de Elias

A Palavra de Deus nos traz um relato significativo sobre o profeta Elias. No capítulo 18 de 1 Reis, vemos o auge de seu ministério. Segundo o texto bíblico, Elias enfrenta, sozinho (com Deus), os profetas de Baal, que o desafiaram para provar quem era o verdadeiro Deus.

Quando seguimos para o capítulo 19, percebemos uma mudança radical na atitude de Elias. No capítulo anterior, ele demonstrava plena confiança em Deus, enfrentando desafios com coragem. No capítulo seguinte, sua postura é completamente diferente.

Agora, Elias sente medo, desconfiança e desesperança. Esses sentimentos, se resumidos em uma única palavra, poderiam ser chamados de depressão. O profeta estava tão abalado emocionalmente que chegou ao ponto de pedir a Deus que tirasse sua vida.

Essa transformação mostra como até mesmo pessoas de grande fé podem passar por momentos de extrema fragilidade emocional. O que aconteceu com Elias nos ensina que todos estamos sujeitos a desafios internos e que é importante reconhecer esses momentos e buscar ajuda.

Andando com Deus

É fundamental compreender que andar com Deus não isenta o cristão de enfrentar sofrimento emocional ou transtornos psicológicos. Elias clamou pedindo a morte, muitos cristãos também oram nesse mesmo desespero, sentindo-se incapazes de continuar.

Elias foi tomado pela depressão e pensou em desistir de tudo. É importante refletirmos sobre algo essencial para o nosso aprendizado. Se até mesmo um homem que teve experiências tão profundas com Deus passou por essa situação, isso nos mostra que qualquer cristão pode enfrentar essa realidade preocupante.

O mais interessante é que, em nenhum momento, a Bíblia sugere que Elias estava em pecado ou que sua fé era fraca. Pelo contrário, ele era um profeta comprometido, que havia testemunhado grandes manifestações do poder divino. Mesmo assim, ele se sentiu esgotado, angustiado e até mesmo desejou a morte.

A depressão é uma condição mental que gera medo, angústia, frustração, baixa autoestima e isolamento. O que Elias viveu séculos atrás é o que mais de 300 milhões de pessoas em todo o mundo enfrentam hoje, a dor da depressão. É necessário enfatizar que esse transtorno não escolhe classe social, gênero, cor ou raça.

Ele pode afetar qualquer pessoa, independentemente de sua espiritualidade. Por isso, precisamos abandonar a visão equivocada de que a depressão é um sinal de fraqueza espiritual e começar a oferecer apoio genuíno e acolhimento àqueles que sofrem.

O DSM-5, que é um dos principais manuais utilizados por psicólogos e psiquiatras para diagnosticar transtornos mentais, estabelece nove critérios para identificar a depressão. Para que um quadro seja realmente considerado depressivo, a pessoa precisa apresentar pelo menos cinco desses sintomas. Para além disso, esses sinais devem persistir por, no mínimo, duas semanas.

É importante destacar que, entre esses cinco sintomas, pelo menos um deve ser obrigatoriamente um dos principais sinais da depressão. Isso significa que o diagnóstico não se baseia apenas em um momento de tristeza passageira, mas sim em um conjunto de fatores que afetam profundamente o bem-estar e a rotina da pessoa.

Humor deprimido (sentir-se triste, vazio ou sem esperança na maior parte do dia);

Perda de interesse ou prazer (deixar de sentir vontade ou prazer em atividades que antes eram satisfatórias).

Para além disso, é necessário apresentar pelo meno cinco dos seguintes sintomas:

1. Sentir-se triste ou sem esperança na maior parte do tempo, quase todos os dias. Em crianças e adolescentes, isso pode se manifestar como irritação constante.
2. Perder o interesse ou prazer na maioria das atividades do dia a dia.
3. Mudança significativa no peso sem estar fazendo dieta, seja engordando ou emagrecendo mais de 5% do peso corporal em menos de um mês. Também pode haver aumento ou redução no apetite.
4. Ter dificuldades para dormir (insônia) ou dormir demais (hipersonia) quase todos os dias.
5. Sentir-se agitado ou muito lento nos movimentos e na fala, a ponto de outras pessoas notarem.
6. Sentir cansaço extremo ou falta de energia com frequência.
7. Ter sentimentos de culpa ou inutilidade exagerados e injustificados, chegando até mesmo a pensamentos delirantes.
8. Ter dificuldades para pensar, se concentrar ou tomar decisões.
9. Pensar frequentemente na morte, ter ideias suicidas ou até mesmo fazer planos ou tentativas de suicídio.

A depressão não é apenas estar triste ou desanimado por um tempo. Ela é uma condição séria, que pode afetar profundamente a vida da pessoa, comprometendo seu bem-estar, suas relações e até suas funções básicas do dia a dia.

Por isso, é muito importante ficar atento a esses sinais e não ignorá-los. Se você ou alguém próximo estiver passando por momentos difíceis, sentindo-se desanimado ou sobrecarregado, é essencial buscar apoio.

Além da fé e do suporte de pessoas queridas, contar com a ajuda de um profissional pode fazer toda a diferença. Cuidar da saúde mental não significa falta de fé, pelo contrário. É um gesto de sabedoria e autocompaixão, que nos ajuda a enfrentar os desafios da vida com mais equilíbrio.

Quando buscamos apoio, seja através da oração, do convívio com pessoas queridas ou até mesmo da ajuda de um profissional, estamos dando um passo importante para viver com mais leveza e esperança. Afinal, Deus nos criou como seres integrais, e isso inclui tanto nossa fé quanto nosso bem-estar emocional.


Referências

American Psychiatric Association. Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais: DSM-5. 5ª ed. Porto Alegre: Artmed, 2014. 992 p. ISBN: 978-85-8271-183-5.

Sobrinho, Ismael. Psiquiatria e Jesus: transforme suas emoções em 30 dias. 1ª ed. Rio de Janeiro: Thomas Nelson Brasil, 2023. 224 p. ISBN: 978-65-5689-691-5.

Matéria produzida por:

COMPARTILHE ESTE CONTEÚDO:

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *